Durante séculos, acreditou-se piamente que a Terra fosse plana que nem uma pizza. Apesar de todo santo dia o sol e a lua sugerirem uma outra hipótese, a terra era plana e pronto. E ai de quem dissesse que não! Seria levemente repreendido tendo sua cabeça mergulhada em chumbo derretido. Chato, não?
Pois é, o tempo passou e vários dogmas nocivos foram superados. Porém, outro dia desses, numa festa, me vi tentando convencer a santa inquisição de que o planeta é redondo. Explico: num certo momento de uma conversa casual sobre televisão, cometi a heresia de dizer que o “Programa do Jô” não era muito legal. Quase fui linchado! Na mesma hora, todos começaram a me tratar como um Nero, um Hitler ou pior, como aquele sujeito esquisito do trio Los Angeles.
Só depois fui perceber que hoje há uma nova e fanática religião entre nós: o “Josoarismo”! Eu havia ofendido o deus da TV brasileira, o sr. José Eugênio Soares, mais conhecido intimamente, por milhões de xiitas sectários, como Jô Soares. Bom, lutar contra uma religião tão forte e radical nunca foi moleza, mas desde que Lutero e Calvino não fecharam a matraca, vamos tentar esclarecer alguns pontos óbvios.
Para os mais afobados, o formato do “Programa do Jô” e do antigo “Jô Soares 11:30″ não é invenção do SBT e da Globo e muito menos do próprio gordo. É apenas uma cópia descarada dos talk-shows norte-americanos como os de Johnny Carson, Jay Leno, David Letterman, etc. Como dizia o grande Chacrinha “Na televisão, nada se cria. Tudo se copia.” Nada demais, portanto.
Desde o início da tv no Brasil, o telespectador foi obrigado a conviver com apresentadores com Q.I.s tão altos quanto o de uma samambaia de plástico. Então, quando aparece um que fala o plural e faz todas as concordâncias verbais corretamente, chamam logo o cara de “gênio”. Gênio é o escambau! Convenhamos, o sr. Soares não é e nunca foi um gênio. Tem uma inteligência normal apenas. Freqüentou boas escolas e foi bem alimentado quando pequeno (bem alimentado até demais, diga-se, o que lhe conferiu aquela famosa silhueta estilo “cintura de quibe”). É sua obrigação não apresentar os tiques nervosos de um Sérgio Mallandro ou as quatro expressões faciais de um Gugu Liberato, o vocabulário miserável de uma Ana Maria Braga ou a mente sub-reptílica de um João Kleber. E mais: qualquer lingüista pode atestar que o tal Jô Soares fala um francês regular, erra direto na pronúncia e tempos de verbos em inglês, sabe um italiano de restaurante e ilude a massa ignara ao inventar um portunhol horroroso! Se for gênio, Einstein, Mozart e Newton, o que seriam? Comediantes? Creio que não…
Foram tantos os que acreditaram e propagaram a superioridade intelectual do sr. Soares que o inevitável aconteceu: ele mesmo se convenceu desse engano tão desgraçado! Assim, há anos, ele vem se sentindo muito à vontade para cometer toda a sorte de abusos que lhe convém. Por exemplo, volta e meia o telespectador testemunha cenas de sólido exibicionismo. O sr. Soares canta falando para não desafinar, dá tapas a esmo num bongô, toca teclado que nem um pica-pau e até ousa soprar um trompete! Nem a mais miserável das charangas de coreto do interior aceitaria uma imoralidade musical dessas! E ainda se diz amante do jazz! Se ele respeitasse Louis Armstrong de verdade, não soltaria uns trinados tão infelizes. Depois de assistir a tudo isto, o povão vai dormir convencido que o sr. Soares só não rege a filarmônica de Londres só porque não tá afim: “Além de gênio, toca corneta pra caraio, sô!”
E TEM MAIS :
Em matéria de arbitrariedades, o sr. Soares é um prodígio sem igual. Vejamos:
- Durante as entrevistas faz piadas fora de hora e de contexto a todo instante, atrapalhando o desenrolar da conversa.
- Conduz as entrevistas de acordo com seu gosto pessoal, ridicularizando os convidados caso estes digam algo com o que não concorde.
- Interrompe os entrevistados sem cerimônia sempre agarrando o braço destes e repetindo a mesma frase cretina há uns dez anos, no mínimo.
- Repreende de forma agressiva e humilhante subalternos como câmeras, produção, platéia e principalmente os pobres coitados do quinteto.
Deus é deus e todos acham que tudo que deus faz é formidável. Porém muito dessa adoração cega foi criada pelo próprio público. Chega a ser constrangedor ver grupos de universidades, colégios e cursos, todos com ar apanacado, se amontoarem num microauditório só para receberem o “beijo do gordo”! Francamente…
Os entrevistados não fazem melhor. Todos rendem homenagens trazendo presentes e mais oferendas para a entidade. É uma puxação de saco infernal. Em todos os programas aparece um capacho humano capaz de soltar as mais ensebadas bajulações, emocionado, achando que só está fazendo sua obrigação!
E isso é só o começo. De qualquer modo, muitos já acreditaram piamente em Papai Noel, Bicho Papão e nos fiscais do Sarney e a fé no Josoarismo também pode ser revista. Apesar de estar claro que o destino do óbvio é ser ignorado, é só ligar a TV na Globo, tarde da noite, para lembrar que, apesar de não parecer, a terra é tão redonda quanto aquele sujeito que está lá ocupando a tela toda.
(texto visto no http://www.adolargangorra.com.br/blog/muito bem escrito pelo própido Adolar Gangorra )
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